Consultório móvel permitiu que P., de 24 anos, recebesse a atenção de uma enfermeira
  
Se o usuário de drogas não vai atrás de atendimento, o  socorro vai até ele. Em Belo Horizonte, centenas de crianças, jovens e  adultos recebem diariamente a visita de uma equipe multidisciplinar que  busca sensibilizá-los e encaminhá-los para tratamento. O Consultório de  Rua, como é chamado, age nos pontos de concentração de dependentes  químicos, como a Avenida dos Andradas, na Região Leste da cidade, e o  Aglomerado Pedreira Prado Lopes, na Noroeste.
O programa do Governo federal é executado pela prefeitura. Duas  equipes formadas por psicólogos, enfermeiros, assistentes e educadores  sociais percorrem as duas regiões de segunda a sexta-feira, das 15 às 21  horas, abordando pessoas em situação de risco. “A prioridade é para  crianças e adolescentes, mas também atendemos adultos que estão por  perto e pedem ajuda”, diz a psicóloga Luana Santos.
Os jovens não são obrigados a deixar o vício. “Apresentamos as  opções e mostramos que a escolha é deles. Primeiro, conversamos. Depois,  levantamos questões que vão nos mostrar o motivo de eles estarem nas  ruas e usando drogas. Se quiserem largar a dependência, fazemos o  encaminhamento para unidades específicas, como o Centro de Referência em  Saúde Mental Infantil (Cersami), no caso de menores de 18 anos”,  ressalta a assistente social Mirian Pacheco, técnica e referência em  saúde mental do Consultório de Rua.
A van que transporta a equipe também serve de consultório. Ontem,  P., de 24 anos, foi atendida por uma enfermeira após se queixar de dores  abdominais.
Essa não foi a primeira vez que a jovem passou mal.  Em outra ocasião, ela foi levada até a Unidade de Pronto-Atendimento  (UPA) Centro-Sul e, depois, atendida em um centro de saúde. P. fez  exames e espera o diagnóstico para saber a origem das dores. “Se  necessário, fazemos visitas aos parentes acompanhados de servidores de  outros departamentos da rede de saúde”, diz Mirian.
A forma como a abordagem é feita atrai o público-alvo. “O que mais  gosto é de trocar ideia com eles”, diz L., de 12 anos. O garoto mora no  Bairro Alto Vera Cruz, na Região Leste, com a mãe. Durante o dia,  perambula pelas ruas em busca de tíner. “Uma vez, eles (os funcionários  da PBH) nos levaram ao cinema do shopping. Eu dormi no meio do filme”,  lembra.
E., de 17 anos, cobra da equipe do Consultório de Rua mais uma  programação do tipo. Mas diz gostar mesmo é da disponibilidade dos  profissionais para ouvi-los. Na última terça-feira, a psicóloga e uma  educadora da equipe visitaram a mãe do rapaz, que está com câncer. “Sigo  tudo o que me falam. Disseram que não podia transar sem camisinha, pois  há risco de gravidez ou de pegar alguma doença”.
A equipe do Consultório de Rua também dá “puxões de orelha” quando  necessário. Foi o que aconteceu com a jovem A., de 25 anos, moradora de  rua desde os 7 e viciada em tíner.
No último mês, A. foi  atropelada pela nona vez. Ontem, minutos depois de receber alta médica e  uma ambulância deixá-la na casa de uma ex-moradora de rua no Bairro  Santa Tereza, na Região Leste, a jovem voltou à Avenida dos Andradas à  procura do produto químico. “Mas não tenho dinheiro para comprar”. Uma  lata de tíner, segundo ela, custa R$ 8.
Desde abril, 850 pessoas foram abordadas pelo programa. Dessas, 40  foram encaminhadas para unidades de saúde e de assistência social.  “Fiquei muito feliz de ver, na segunda-feira, um desses jovens  trabalhando. Ele seguiu uma recomendação de onde conseguir emprego e foi  atrás. Quase não o reconheci. Está sem barba, todo arrumado. É  gratificante”, diz a assistente social Ana Paula Leão.
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